O ASSALTO AO SANTA MARIA –
Henrique Galvão
Tradução de Manuela Maria
O. de Madureira.
Coleção "Compasso do
Tempo" nº 14.
Edições Delfos
Lisboa - 1974.
Página:315
Dimensões: 205x150 mm
Peso: 369
======================================
Como comprar
PREÇO:14.00€
======================================
Exemplar com pequeno dano no canto da lombada. Miolo em bom estado, tem
uma dedicatória na folha de guarda
======================================
HENRIQUE
GALVÃO
HENRIQUE
GALVÃO teve uma notável carreira pública, tanto em Portugal Metropolitano como
nas colónias.
Foi
fundador e director da Emissora Nacional, director de Feiras e Exposições,
governador de um distrito de Angola, deputado por Angola à Assembleia Nacional
em 1935 e de novo em 1946-49, Inspector Superior da Administração Colonial.
Educado
na Escola do Exército, atingiu o posto de Capitão do Exército Português.
Além
das suas actividades públicas, foi um conhecido novelista, dramaturgo e autor
de livros sobre política, economia e história.
Entre
as suas várias ocupações, foi incansável viajante, explorador, caçador de caça
grossa, naturalista e etnologista.
Em
1948, como consequência do seu famoso Relatório sobre os Problemas Nativos nas
Colónias Portuguesas, Galvão tornou-se um dos cabecilhas da oposição ao Regime
de António de Oliveira Salazar.
Três
anos mais tarde dirigiu a campanha eleitoral do Almirante Quintão Meireles para
Presidente da República.
No
ano seguinte foi preso pela PIDE sob a ameaça de actividade política
subversiva.
Após
um julgamento rodeado de vasta publicidade, passou sete anos na prisão, e, em
1958, em consequência de panfletos que escrevera na prisão atacando a ditadura
e a sua oligarquia, foi condenado a mais 18 anos de prisão.
A
16 de Janeiro de 1959 efectuou uma dramática fuga do Hospital de Santa Maria em
Lisboa, refugiando-se quatro semanas mais tarde na Embaixada da Argentina.
Em
Maio de 1959 foi-lhe concedido um salvo-conduto para ir de avião para a
Argentina, e, em Novembro desse mesmo ano, deslocou-se para a Venezuela para
continuar as suas actividades entre os exilado portugueses al residentes
Foi
na Venezuela que concebeu o plano para a tomada do paquete Santa Maria, plano
esse que foi finalmente posto em prática a 21 de Janeiro de 1961.
Após
a captura do Santa Maria e o fim da sua fantástica viagem, no Recife, Brasil, o
Capitão Henrique Galvão tomou parte, em 11 de Novembro de 1961, no assalto a um
avião, aproveitando-se do mesmo para o lançamento de panfletos sobre Lisboa.
Nesta
operação teve lugar de destaque Herminio da Palma Inácio, incansável lutador
contra a ditadura fascista e fundador da «Liga Unidade e Acção Revolucionárias
(LUAR).
Henrique
Galvão morreu em São Paulo aos 25 de Junho de 1970, pouco antes da morte do
ditador Salazar (27 de Julho de 1970) e quatro anos antes da queda definitiva
do fascismo português, em 25 de Abril de 1974.
Este
grande português repousa no cemitério de Vila Nova Cachoeirinha (São Paulo).
O REGIME DE SALAZAR
Em
Maio de 1926, como consequência do estado caótico da nação, o Exército
Português, enfraquecido por políticas, mas dotado ainda de uma certa autoridade
e sentido histórico, expulsou do poder os partidos políticos da nação. O
Exército viu-se imediatamente sobrecarregado com funções de governo, muito para
além das funções e responsabilidades que se atribuíra. Não tendo qualquer
desejo inato de poder político, decidiu desembaraçar-se deste pesado fardo o
mais depressa possível. Sentiu-se que, durante um período temporário, enquanto
estives- sem a ser reconstruídas as fundações das instituições políticas e
administrativas do país, era necessária uma ditadura. No entanto, não se punha
sequer em causa o regime permanente: Portugal continuaria a ser uma república.
Dois grupos de problemas requeriam solução, para a paz e reputação da nação. Em
primeiro lugar, teriam de ser resolvidos os problemas originados pela crítica
situação fiscal e administrativa; em segundo lugar, as instituições políticas e
económicas do país teriam de ser reformadas em moldes viáveis. Simultaneamente,
teriam de empreender-se reformas sociais urgentes sem colidirem com os
sentimentos tradicionalmente democráticos do povo.
Embora
a situação económica da nação durante o primeiro período da ditadura militar
fosse desastrosa, o povo conservou uma certa reserva de optimismo e confiança.
Assim, apesar do seu descontentamento, evitou-se uma insurreição geral e
preparou-se o caminho para o êxito de um Ministro das Finanças partidário do
autoritarismo-um futuro ditador financeiro. Esta pasta, depois de ter sido
declinada por vários reputados professores de Economia, foi confiada a um
obscuro professor da Universidade de Coimbra, António de Oliveira Salazar,
cujos artigos começavam a aparecer nas colunas de um jornal católico e que, em
tímidos panfletos, proclamava direitos e liberdades que posteriormente negou ao
povo Português. O professor Salazar tinha fama de ser honesto, temente a Deus e
tecnicamente competente.
Após
a desastrosa administração fiscal dos militares, o povo concedeu imediatamente
a Salazar um fundo de confiança ilimitada. Completamente liberto das dificuldades
encontradas por outros peritos num regime parla- mentar caótico, não lhe foi
difícil obter, pela simples aplicação dos seus conhecimentos técnicos, um êxito
fiscal que proclamou então como sendo o seu próprio. A sua vaidade nunca
permitiu que se revelassem as verdadeiras razões por detrás deste facto, que
era colectivo da nação como um todo.
Com
a sua orientação messiânica, a nação veio a acreditar no seu Enviado de Deus,
com a mesma credulidade cega que se concede a charlatães e curandeiros.
Reconhecendo
naturalmente as suas qualidades técnicas, deixou-se entusiasmar a ponto de
imputar a Salazar todas as virtudes, incluindo aquelas que mais obviamente lhe
faltavam. A sua vaidade, tanto mais perigosa quanto se gabava de ser modesto,
experimentou assim a primeira grande satisfação. Ao mesmo tempo, a sua astúcia
de camponês dizia-lhe que a melhor maneira de manter a ilusão popular e
desfrutar o consequente estado de mito, era ser visto o menos possível, evitar
o contacto com o povo e fugir assim ao risco de vir a conhecer-se a ver- dade
sobre a sua personalidade. Isto era-lhe bastante fácil, pois, para alcançar o
seu tão desejado propósito e fonte de prazer o poder arbitrário teria apenas de
sacrificar aquilo que lhe era desagradável, ou pelo menos enfadonho:
convivência, espectáculos, companhia de mulheres e outras diversões do homem
vulgar.
Assim,
agarrou a oportunidade e começou a criar a máscara que, a partir daí, o
protegeria, a ele e ao mito da sua infalibilidade. O povo, ingénuo, e isolado pela
censura, das democracias que poderiam esclarecê-lo, só muito mais tarde descobriria
quanta malícia de campónio, quanto ódio reprimido e quanto orgulho mórbido
estavam ocultos sob a capa de simplicidade e de modéstia que ele usava.