Mostrar mensagens com a etiqueta Política Portugal. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Política Portugal. Mostrar todas as mensagens

domingo, 29 de setembro de 2024

NOTAS DA MINHA VIDA E DO MEU TEMPO - Vol. I

 


NOTAS DA MINHA VIDA E DO MEU TEMPO Vol. I

Homem Christo

Livraria Editora Guimarães e C.ª

Páginas: 221

Dimensões: 190x120 mm

Peso: 194

Exemplar em bom estado.  Tem uma assinatura na folha de guarda.

 ======================================

Como comprar

PREÇO:9.00

======================================

  Memórias de Francisco Homem Cristo, figura ímpar da República. Com interesse para a compreensão da história política portuguesa durante o período a que diz respeito o conjunto da obra - da sua juventude até ao regicídio.

"Poderia ter escrito só as "Notas da Minha Vida". Preferi escrever as “Notas da Minha Vida e do Meu Tempo”. Há factos passados, muito importantes, de que as gerações novas não têm nenhum conhecimento. Que sabem elas da vida e transformação dos partidos políticos do velho regime? E dos inícios e desenvolvimento do partido republicano? Quási nada ou nada."

(Excerto do Vol. I)

  ======================================

Francisco Manuel Homem Cristo (1860-1943). Foi um militar e político republicano. Foi também professor universitário, escritor e jornalista, panfletário notável e político de relevo nos tempos que precederam a implantação da República Portuguesa. "Fundador do semanário O Povo de Aveiro, em 1882, demite-se então do exército. Fez parte do directório do Partido Republicano. Colaborou na revolta do 31 de janeiro de 1891, sendo então, preso. Opositor de Afonso Costa. Pede a demissão do exército em 1909 e exila-se em Paris. Violento polemista na linha de José Agostinho de Macedo, demolidor da política dos afonsistas, acaba por elogiar Carmona e o Secretariado da Propaganda Nacional. Em 1906 edita Pro Patria, obra de reflexão sobre a paz e a guerra e o militarismo, onde advoga a introdução em Portugal do modelo suíço de serviço militar. 

====================================== 






quarta-feira, 5 de junho de 2024

ALENTEJO, Terra De Promissão/Pensamento Agrário

 


ALENTEJO, Terra De Promissão/Pensamento Agrário

Mário De Castro

Edição : Seara Nova

1ª Edição - Lisboa – 1933

Páginas: 255

Dimensões: 192x134 mm

Peso: 272

 Exemplar em muito bom estado, sem rasgos, anotações ou sublinhados

 ======================================

PREÇO: 28.00€ Como comprar

======================================

  ÍNDICE

 1. PARTE-Introdução ao estudo do problema agrário

 2.ª PARTE-Discussão do problema,

 CAPÍTULO I- Rememorando os termos da questão.

 CAPÍTULO II - ¿A grande propriedade é geradora de insuficiências na produção?

 4 CAPÍTULO III - ¿A grande propriedade causa, de facto, irregularidades demogénicas?.

 CAPÍTULO IV- A doutrina do Sr. Pequito Rebelo

 CAPÍTULO V-¿¿Não há uma questão agrária no Alentejo?.

 3.ª PARTE - Linha geral de uma reorganização agrária

Epilogo

 ======================================

 






segunda-feira, 20 de maio de 2024

A DUPLA RESTAURAÇÃO DE ANGOLA


 A DUPLA RESTAURAÇÃO DE ANGOLA  

Contribuição do Ministério das Colónias para as Comemorações do Tricentenário da Restauração de Angola

Autor: Silva Rêgo

Agência Geral das Colónias

Ano: 1948

Páginas: 274

Dimensões: 230x165 mm.

Peso: 409

Exemplar em muito bom estado.

========================================

PREÇO: 43.00€ - Como comprar

========================================

TÁBUA DAS MATÉRIAS

 Tábua das Matérias

Prefácio

Introdução

1. Geografia física de Angola

2. Geografia humana de Angola

3. O Brasil e Angola 4. As Províncias Unidas

CAPÍTULO 1-ENTRE DOIS CATIVEIROS. 1641

1. Após a aclamação de D. João IV

2. Holandeses à vista

3. O ataque holandês

4. A atitude de Pedro César de Meneses

A caminho de Massangano

A tragédia de Benguela

CAPÍTULO II-DE MASSANGANO AO BENGO

1. Em Massangano.... 2. O abandono de Muxima

3. Campanhas contra o gentio revoltado

4. Acções contra os Holandeses

Fim das hostilidades entre Portugueses e Holandeses...

6. Ataque holandês ao arraial do Bengo

CAPÍTULO III-NOVAMENTE EM MASSANGANO

1. Novamente no presídio de Massangano

2. Tréguas entre Portugueses e Holandeses

 3. Principais sucessos do governo de Abreu de Miranda...

4. Continuam as tréguas com os Holandeses

5. Campanhas contra o sertão

CAPÍTULO IV-A DIPLOMACIA AO SERVIÇO DA RESTAURAÇÃO. 1640-

-1644 

1. A embaixada à Holanda em 1641

2. Preparação e conclusão do tratado luso-holandês

3. Consequências imediatas do tratado

 4. A enviatura especial do Dr. Francisco de Andrade Lei- tão. 1642-1644

CAPÍTULO V-SOCORROS PARA ANGOLA

1. Reacção em Portugal perante a perda de Luanda

2. Primeiros esforços para a organização do socorro angolano 3. O desastre do Bengo apressa a partida do socorro

4. A expedição Sequeira-Mendonça

5. Fim desastroso da expedição

CAPÍTULO VI-O SOCORRO DE FRANCISCO DE SOUTOMAIOR

1. A expedição

2. Quicombo

3. Entre Quicombo e Massangano

4. Francisco de Soutomaior em Massangano

5. Campanhas contra a rainha Jinga

6. O desfazer de um plano

CAPÍTULO VII-A SOLUÇÃO DO TRIUNVIRATO

1. Eleição do triunvirato

2. Campanhas na Cavala

3. Após o desastre da Cavala

4. Cerco de Muxima

5. Novo desastre

6. Cerco de Massangano

7. Fim do triunvirato 8. Governo de

Bartolomeu de Vasconcelos da Cunha

CAPÍTULO VIII-A EMBAIXADA DE FRANCISCO DE SOUSA COUTINHO

À HOLANDA. 1643-1650

 1. Dificuldades iniciais da embaixada

2. O desastre do Bengo apreciado pelo embaixador

3. A restituição à vista?

4. Após o desaire

5. O P António Vieira

6. Remando contra a maré

7. O Papel forte

CAPÍTULO IX-PREPARAÇÃO DO ÚLTIMO SOCORRO ANGOLANO

1. A metrópole continua interessar-se por Angola a 2. Salvador Correia de Sá e Benevides

3. A questão do «mestre-de-campo»

4. Últimas dificuldades

CAPÍTULO X-DE LISBOA À SEGUNDA RESTAURAÇÃO DE LUANDA

1. No Rio de Janeiro

2. Composição da esquadra

3. Do Rio de Janeiro a Quicombo

4. Preliminares do assalto

5. O assalto 6. A rendição

7. A iniciativa da restauração de Luanda

 CONCLUSÃO

 Apêndice documental: Carta do P. António do Couto, escrita em Luanda a 5 de Setembro de 1648

Bibliografia

 Índice onomástico e geográfico

======================================== 

  PREFÁCIO

 TODOS os portugueses sabem o que vulgarmente se quer  dizer quando se fala em «campanhas da Restauração». São lutas contra o jugo castelhano ou holandês, após a revolução nacionalista de 1640, a fim de reganhar o antigo império perdido durante o duro «cativeiro de Babilónia» de 1580 a 1640. Estas lutas assumem ainda significado diverso, quando se trata de lutas na metrópole ou de lutas no Oriente.

 Na história angolana, porém, as «campanhas da restauração apresentam outra significação. Os Portugueses, embora expulsos da costa, estavam firmemente estabelecidos em Muxima, Massangano, Cambambe e Ambaca e, em vista disto, nunca perderam os seus direitos sobre a velha possessão africana. Por conseguinte, a conquista de Luanda pelos Holandeses, embora tivesse representado grave quebra de prestigio para os antigos senhores de toda aquela costa, não abalou em nada os dados fundamentais da presença portuguesa em Africa. Deve, pois, falar-se em «restauração de Luanda» e não em «restauração de Angola».

 Este condicionalismo especial pode explicar, até certo ponto, o interesse do assunto deste nosso estudo, pois os sete anos do co-domínio holandês em Angola foram fecundos em acontecimentos e repletos de lições. Na nossa bibliografia colonial não avulta ainda uma obra a tratar expressamente este período com certo desenvolvimento. Foi este, precisamente, o motivo que nos levou a aprofundar o sentido histórico destes anos, considerados não só em relação aos nossos actos angolanos, como também aos nossos actos europeus.

 A bibliografia que utilizamos é, no geral, a que vulgar- mente se usa quando se deseja estudar qualquer facto da história de Angola nos séculos XVI ou XVII. Cadornega, Silva Correia eo Conde da Ericeira são as bases históricas tradicionais do periodo da restauração angolana. Os Arquivos de Angola têm publicado vários documentos extraídos sobretudo do Arquivo Histórico Colonial e do Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Utilizamo-nos desta utilissima publicação e esperamos que ela continue a servir os estudiosos. Edgar Prestage, por seu lado, é um nome que se não pode esquecer na história diplomática da nossa Restauração. Servimo-nos amplamente dos seus trabalhos sobre as nossas embaixadas à Holanda. A relação da reconquista de Luanda pelos Portugueses é valorizada no nosso trabalho pelo testemunho do P. António do Couto, que assistiu a toda aquela brilhante acção. Este testemunho não foi ainda utilizado por qualquer historiador do glorioso feito e deve notar-se que vem modificar bastante o que até hoje vulgarmente se conhecia a tal respeito. Além disso, consultamos vários documentos no Arquivo Histórico Colonial, riquíssima fonte de estudos ultramarinos. O Con. Delgado, saudoso professor da Escola Superior Colonial, enriqueceu a edição de Cadornega com numerosas e doutas notas que de muita utilidade nos foram. Isto, quanto à originalidade e interesse do nosso estudo.

 Quisemos, pois, apresentar uma obra tanto quanto possível completa referente a estes sete anos de vida angolana e não podíamos escolher melhor altura do que este ano, em que se celebra o terceiro centenário da restauração de Luanda.

 Aproveitamos a ocasião para agradecer ao ilustre director do Arquivo Histórico Colonial, Dr. Joaquim Alberto Iria, todas as facilidades que nos concede nas nossas frequentes visitas do seu arquivo, desejando estender os nossos agradecimentos a todo o sen dedicado pessoal. Os mesmos sentimentos expressamos do St. Dr. Frederico Gavazzo Perry Vidal que tão proficientemente dirige a Biblioteca da Ajuda de Lisboa.

 ======================================== 
















 

sexta-feira, 17 de maio de 2024

DISTO E DAQUILO


 DISTO E DAQUILO

Fernando Lopes-Graça

Edições Cosmos – Lisboa - 1973

Páginas:323

Dimensões: 195x135 mm

Peso: 306

============================================

Exemplar em muito bom estado.

============================================

PREÇO:16.00€ - Como comprar

============================================

 INDICE

PROÉMIO

MEMÓRIAS INCOMPLETAS

1. Recordações em dó maior

2. Memórias de Paris

ENSALADA I.

1. O Abade António da Costa, músico e episto- lógrafo setecentista

2. Nótula de leitura

3. Cultura, educação, arte, etc.

4. Crítica, criação, público, etc.

ENSALADA II

1. Misticismo e Ironia

2. «Os Lusíadas» na escola

3. Língua brasileira.

4. A Severa não morreu

 

5. Um belicista

6. Ciência musicológico-poética

DA ARTE BAILATÓRIA

1. Dança e bailado..

2. Uma experiência coregráfica

3. Os <<ballets>> dos Campos Elísios em S. Carlos.

CINCO NOTAS SOBRE MÚSICA FOLCLÓRICA

1. Constantin Brailoiu e a música folclórica portuguesa

2. Uma definição de música folclórica

3. É a música folclórica uma deformação da música culta?

4. Acerca do canto alentejano

5. Tradicionalismo e folclorismo quantitativos.

 

ENSALADA III.

1. Sobre a Hélada

2. Tomar e o turismo

3. Poesia e música de acção

4. Breves impressões da vida musical lon- drina

5. Notícia sobre os Seminários Livres de Música da Universidade da Bahia

6. Vieira de Almeida, o amador de Música.

7. Memória de Manuel Mendes.

8. OI Festival de Música da Guanabara

9. Uma vez por todas

10. A ópera «Mariana Pineda» de Louis Saguer

11. Música e cinema.

12. Sobre a música do filme «Alexandre Nevsky>>>

============================================

Este livro é um autêntico sarapatel. Há nele de tudo ESTE um pouco da amena página de memórias ao desadornado artigo enciclopédico, da irreverente nota crítica ao ensaio com algumas pretensões, do mais ou menos circunstancial comentário jornalístico ao escrito mais puxado à sustância, da comovida evocação das pessoas à apaixonada impugnação das ideias, da música à poesia, do turismo ao cinema, do bailado ao folclore. E tudo isto de cambulhada ao correr dos dias, dos meses e dos anos, o mais antigo escrito esfumando-se nos longes de 1929, o mais recente datado relativamente de fresco, de 1972. É possível que, do ponto de vista de uma arte literária exigente, que manda que a matéria de um livro obedeça a uma escolha severa, a uma sabia ordenança, a um criterioso princípio de unidade e harmonia, é possível que quanto aqui fica compendiado brigue entre si e produza uma sensação de dissonância supinamente desagradável ao paladar do leitor acostumado às finas produções dos escritores de bom quilate. Mas eu não sou propriamente um escritor, isto é, aquele ser que tem por profissão ou inclinação natural manear habilmente a pena para doutrinar, deleitar, comover ou exaltar os outros com as suas ideias, fantasias, enredos ou invenções. Não. Eu sou apenas um sujeito que, fora do seu oficio próprio, fora daquilo para que a boa natureza se dignou conceder-lhe alguma graça, que é a arte da música, circunstâncias diversas, voluntárias umas, outras pressionantes, e ao sabor de ventos e marés quantas vezes de grande tormenta, se ajeitou ao cálamo ou à remington para lançar ao papel almaço aquilo que não tinha cabida no papel pautado. Mais do que vocação - essa força obscura que nos empurra para a substantivação do que borbulha ou sonha lá no mais fundo de nós mesmos, mais do que vocação, à minha actividade de escrevedor poder-se-lhe-ia chamar antes impulsão, exaltação, necessidade de agir, de intervir, quando as coisas e os acontecimentos implicassem com o meu sentido do verdadeiro, do belo e do justo.

Se alguma vocação havia aí, era talvez a do pedagogo, a do homem que se sente impelido a educar, a esclarecer, a desmistificar - ainda que em tantas circunstâncias hou- vesse que usar de armas porventura as menos próprias e que mais rápido se embotam: as armas da polémica, que é justamente o signo e escape da impulsão, da exaltação.

Mas não haveria também em mim quaisquer pruridos de escritor, de cultivador da forma, do estilo, poderá perguntar acaso o leitor que atente num que outro escrito, ou passo de escrito, nada pedagógico, nada intervencionista e onde trasluz antes uma vontade por assim dizer gratuita de mero prazimento literário? É possível. Todos nós somos sujeitos a tentações, a ilusões, umas vezes que nos passam despercebidas, outras que vêm a ser pagas com o sorriso caridoso ou escarninho dos outros. Parece-me, em todo o caso, que tais momentos literários são raros nos meus escritos seja como for, não é apenas o lançar com alguma correcção e alguma clareza as suas ideias ao papel o que faz o escritor e eu confio em que, se alguma literatura há aí, ela me não seja creditada à intenção cultivada de passar também por escritor ou à balda perigosa balda! de mostrar-me habilidoso no meu violon d'Ingres...

Posto isto, assalta-me a dúvida sobre se haverá nestes escritos alguma coisa, se se esboçará neles alguma ideia, algum pensamento que justifique o propósito de trazê-los das publicações onde primeiro vieram a lume para os salvar de um porventura merecido esquecimento. Estou em que há para aí muita ingenuidade, algum atrevimento, bastante inabilidade, possivelmente de par com um que outro acerto, com uma que outra observação pertinente. No fundo, eu creio que o que poderá grangear para o livro alguma simpatia será tão-só a circunstância de ele se apresentar assim mesmo: ingénuo, atrevido, inábil, mas correspondendo, na sua variegada temática, a impulsões vividas do autor, a sinceros movimentos da sua exaltação e dai talvez o seu interesse antes de mais documental, naquilo em que de certo modo possa constituir uma contribuição para o conhecimento de uma pessoa e de um meio, ou, melhor, das reacções dessa pessoa a esse meio. E isto, bom será notá-lo, desde que se não considere essa mesma pessoa -o autor do livro - um individuo (muito menos uma individualidade), uma consciência estanque ou voltada só para si (o livro seria, então, uma espécie de retrato autobiográfico, coisa detestável), mas sim um duplo de outras pessoas, de muitas outras pessoas, susceptiveis de experimentarem (e sofrerem) idênticas reacções ao mesmo meio, que, bem vistas as coisas, pouco se modificou no transcurso de perto de quarenta e cinco anos.

Aqui ficam, pois, estes escritos provindos de quadrantes vários em mútua companhia e entregues ao seu destino, que estimarei lhes não seja demasiado hostil. Será ocioso acrescentar que, para a sua publicação em livro, os ajeitei aqui e ali e lhes corrigi alguns aleijões originais, não para os aformosear, mas para que eles possam merecer do leitor a sua melhor benevolência.

Parede, Janeiro de 1973

 

============================================

https://www.instituto-camoes.pt/activity/centro-virtual/bases-tematicas/figuras-da-cultura-portuguesa/fernando-lopes-graca

Fernando Lopes-Graça

Por Teresa Cascudo

No decurso de uma entrevista concedida em 1986, Lopes-Graça afirmou que a sua atuação enquanto artista era inseparável dos compromissos que, como cidadão, tinha com a “Cidade” e com a “Grei”. A sua intenção era esclarecer definitivamente, no significativo momento do seu 80º aniversário, que não era nem um “compositor político” nem um “político compositor”.

A posição de Lopes-Graça apresenta analogias com a de numerosos intelectuais portugueses, os quais, a partir de coordenadas diferentes, defenderam o papel da cultura como fundamento para a construção da sociedade civil. Este compromisso, no caso de Lopes-Graça, foi primeiramente um compromisso pessoal. Foi, ainda, um compromisso público, alicerçado numa conceção social da arte e na fé no progresso da humanidade. Porém, decorridos cem anos desde o seu nascimento, Lopes-Graça merece ser principalmente recordado como compositor, como autor de uma vasta obra em que deu voz a uma forma interveniente e crítica de “ser” português.

Nascido em Tomar, em 1906, Fernando Lopes-Graça iniciou os seus estudos musicais na sua cidade natal, tendo-os concluído no Conservatório Nacional de Lisboa, que frequentou entre 1923 e 1931. Nessa instituição foi discípulo de piano dos professores Adriano Merea e José Viana da Mota, estudou composição com Tomás Borba, e ciências musicais com Luís de Freitas Branco. Frequentou ainda o curso de Letras das Universidades de Lisboa (1928-31) e de Coimbra (1932-4), embora não chegasse a conclui-lo. As primeiras obras do seu catálogo foram apresentadas em Lisboa em concertos organizados em colaboração com outros colegas do Conservatório, na mesma época em que iniciava um notável trabalho como cronista musical, manifestando um raro talento literário e uma ampla cultura. Em 1932 começou a ensinar na Academia de Música de Coimbra, cidade onde permaneceu radicado até 1936. Os anos de Coimbra foram precedidos e encerrados com duas detenções por motivos políticos que o impediram de ensinar em escolas públicas durante os anos posteriores, apesar de ter ganho por oposição uma vaga de professor de piano no Conservatório Nacional de Lisboa em 1931. Estes anos coincidiram com um primeiro período, que poderíamos qualificar como modernista, no seu percurso como compositor, durante o qual o seu estilo revelou a influência de autores como Arnold Schönberg e Paul Hindemith. Nas suas primeiras obras, muitas delas destruídas ou revistas posteriormente, também se destaca um atento estudo da prosódia da língua portuguesa, manifestado nas suas canções de poetas como Adolfo Casais Monteiro, José Régio ou Fernando Pessoa. O seu gosto pelos géneros vocais, estimulado pelo relacionamento constante com poetas contemporâneos, permaneceu ao longo de toda a sua vida.

Lopes-Graça instalou-se em Paris em 1937. Na capital francesa frequentou o curso de Musicologia da Sorbonne, assistindo às aulas de Paul-Marie Masson, e teve alguns contactos com o compositor Charles Koechlin. Em Paris compôs várias obras para piano, a música para o bailado realista La Fièvre du Temps e realizou as suas primeiras harmonizações para voz e piano de canções tradicionais portuguesas. Uma parte da sua produção derivou num “nacionalismo essencial”, nas suas palavras, caracterizado pelo tratamento do material retirado da música tradicional e pela assimilação dos seus rasgos harmónicos, melódicos e rítmicos. Temos dois exemplos na Sonata para piano nº 2 e na primeira versão do Quarteto com piano, onde a referência estilizada às canções populares surge junto com o uso de uma colorística harmonia e de ritmos percutidos alternados com polirritmias lineares. Esta nova tendência no seu estilo de compor manifesta a influência de Bela Bartók e de Manuel de Falla e a dos escritos de Koechlin publicados nestes anos.

Fernando Lopes-Graça a dirigir o Coro da Academia dos Amadores de Música (© Câmara Municipal de Cascais / Museu da Música Portuguesa / Fundo Fernando Lopes-Graça)

Lopes-Graça regressou a Lisboa em 1939, tendo retomado a sua atividade como cronista musical, musicólogo e professor e iniciando o seu labor como organizador de concertos e maestro coral. Ensinou piano, harmonia e contraponto na Academia de Amadores de Música e constituiu a sociedade Sonata que, entre 1942 e 1960, promoveu a apresentação de programas inteiramente preenchidos por música do século XX. A sua primeira obra importante após o seu regresso de Paris foi o Concerto para piano e orquestra nº 1, composição que ganhou o primeiro prémio de composição patrocinado pelo Círculo de Cultura Musical em 1940. Recebeu a mesma distinção em 1942, com a cantata História Trágico-Marítima sobre textos de Miguel Torga, em 1944, com a Sinfonia per orchestra, e, em 1952, com a Sonata para piano nº 3. Lopes-Graça também retomou as suas colaborações nas publicações periódicas Seara Nova e O Diabo, como crítico musical e teatral respetivamente. Participou, com Bento de Jesus Caraça, na organização da Biblioteca Cosmos e publicou vários livros onde, para além de editar seleções dos seus artigos jornalísticos, se dedicou à difusão, com intuito pedagógico, de diversos assuntos de caráter musical.

Após a Segunda Guerra Mundial, grande parte da atividade de Lopes-Graça foi determinada pela sua participação no Movimento de Unidade Democrática, assim como no PCP, do qual se tornou militante na década de 40. É de 1945, por exemplo, o seu plano para a organização estatal da música, inédito até à sua publicação em 1989, um bom indício das esperanças postas na mudança política que foram partilhadas por muitos nesta época. É também deste ano o início da composição das célebres Canções Heróicas, canções de intervenção que Lopes-Graça, apesar da proibição que pesava sobre a sua execução pública, continuou a compor até 1974, e inclusive em anos posteriores. A criação, igualmente em 1945, do Coro do Grupo Dramático Lisbonense fez parte deste movimento. Este foi o antecedente do Coro da Academia de Amadores de Música, fundado em 1950. Para além do trabalho de regência, Lopes-Graça escreveu para este agrupamento dezenas de harmonizações corais de canções tradicionais portuguesas, que constituíram o seu repertório. Por último, também em 1945, Lopes-Graça começou a colaborar regularmente na revista Vértice, onde publicou ao longo da segunda metade da década quatro artigos essenciais para entender as suas atitudes estéticas e políticas: “Necessidade e capricho da música contemporânea” (1945), “Sobre o conceito de popular na música” (1947), “O valor da tradição nas culturas musicais” e “Valor estético, pedagógico e patriótico da canção popular portuguesa” (ambos de 1949). O seu apreço reivindicativo da música tradicional continuou manifestando-se nas suas obras musicais da década de 50, nomeadamente na Sonata nº 3 e nas Glosas, ambas para piano.

O fim da sua atividade pedagógica na Academia de Amadores de Música, em 1954, foi consequência de um despacho ministerial que anulou a sua autorização para dar aulas em instituições privadas de ensino. Conseguiu, porém, manter a sua ligação com a instituição através da revista Gazeta Musical (1950-1957), fundada por ele juntamente com João José Cochofel, e da edição do Dicionário de Música (1954-8), empresa iniciada a partir do projeto de um dos seus professores, o então já falecido Tomás Borba, e através da direção musical do mencionado Coro da Academia de Amadores de Música, que teve nestes anos um dos seus períodos de mais intensa atividade. O dicionário foi editado pela Editorial Cosmos e durante estes anos foi a principal fonte de ingressos do compositor. O seu encontro com Michel Giacometti data de fins da década de 50, quando após um primeiro encontro pessoal ambos deram início a um trabalho conjunto que se manteve durante décadas. O primeiro fruto desta colaboração nasceu em 1960, ano em que foi editado o primeiro volume discográfico da coleção “Antologia da Música Regional Portuguesa”, dedicado à região de Trás-os-Montes. Ambos, em 1981, editaram no Círculo de Leitores o Cancioneiro Popular Português.

Primeira página da partitura autografa "Suite Rústica N.º 1" de Fernando Lopes-Graça (© Câmara Municipal de Cascais / Museu da Música Portuguesa / Fundo Fernando Lopes-Graça)

O desenvolvimento posterior da obra musical de Lopes-Graça tem permitido definir uma terceira fase iniciada na segunda metade da década de cinquenta, e marcada por obras como o ciclo vocal As mãos e os frutos (1959), sobre poemas de Eugénio de Andrade, o Canto de Amor e de Morte, quinteto com piano composto em 1961, e a Sonata para piano nº 5, escrita em 1977. Estas duas obras contam-se entre a produção mais intensa e exigente em termos formais e expressivos do compositor, evidenciando uma nova orientação no seu estilo. Embora nunca chegasse a abandonar completamente as referências explícitas à canção tradicional no seu catálogo, nestes anos, o compositor passou a explorar de maneira intensiva o ritmo e a harmonia, sendo o trabalho sobre este parâmetro baseado na utilização de um número muito reduzido de relações intervalares, em estruturas mais elaboradas. Esta é também a época do Concerto da camera col violoncelo obbligato, encomenda de Mstislav Rostropovich que o interpretou em primeira audição num concerto em Moscovo, e do Quarteto de cordas nº 1, vencedor do prémio de composição Rainier III de Mónaco em 1965. Nesse ano foram gravadas pela primeira vez obras sinfónicas da sua autoria interpretadas pela Orquestra do Porto sob a regência de Silva Pereira, que tinha dirigido no ano anterior um concerto inteiramente preenchido com composições para orquestra de Lopes-Graça, promovido pela delegação portuense da Juventude Musical Portuguesa.

O fim do Estado Novo traduziu-se no reconhecimento oficial da importância de Lopes-Graça para a cultura portuguesa através de diversas homenagens e encomendas estatais. No que diz respeito à divulgação da sua obra, devemos referir a reedição, ao longo das décadas de 70 e de 80, dos seus livros numa coleção da Editorial Caminho e a gravação em disco de um considerável número de obras da sua autoria, editadas pela etiqueta discográfica PortugalSom, então dependente da Secretaria de Estado da Cultura. Os anos transcorridos desde 1974 até ao seu falecimento foram para Lopes-Graça criativamente muito férteis. São prova disso as duas sonatas para piano e um quarteto, o impressionante Requiem para as vítimas do fascismo em Portugal (1979) e as Sete predicações de “Os Lusíadas” (1980), o bailado Dançares, uma sinfonia para orquestra de formação clássica, numerosas canções, composições instrumentais mais breves e peças de circunstância. Da sua última produção para voz e piano, destacam-se os Dez Novos Sonetos de Camões, Aquela nuvem e outras (sobre poemas infantis de Eugénio de Andrade) e canções sobre textos de Fernando Pessoa e de José Saramago. Se o expressivo Requiem sintetiza a vertente mais dramática do seu catálogo, surgiram neste período outras composições com características novas. Lopes-Graça cultivou a partir dos anos 80 uma espécie de neoclassicismo revisitado para formações instrumentais que nunca tinham feito parte do seu catálogo. Na realidade, essa ideia de neoclassicismo relaciona-se ao longo de toda a sua obra com uma interessante reflexão sobre a de tradição, que se evidencia no recurso e manipulação constante de citações musicais. Sonata nº 6, a Sinfonietta homenagem a Haydn e Geórgicas são exemplos desta última fase, obras onde também se revela através da paródia o seu peculiar sentido do humor.

 

Bibliografia sumária:

  • Carvalho, Mário Vieira de Carvalho, O essencial sobre Fernando Lopes-Graça, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1988.
  • Cascudo, Teresa, “À luz do presencismo: uma leitura da Introdução à música moderna (1942), de Fernando Lopes-Graça”, Leituras: Revista da Biblioteca Nacional, 12-13, 2003, pp. 107-124.
  • Uma homenagem a Fernando Lopes-Graça, Porto, Câmara Municipal de Matosinhos/Edições Afrontamento, 1995.
  • Vértice, 444/5 (1981) [número especial dedicado a Fernando Lopes-Graça]
  • ============================================