segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

O ASSALTO AO SANTA MARIA

 


O ASSALTO AO SANTA MARIA –

Henrique Galvão

Tradução de Manuela Maria O. de Madureira.

Coleção "Compasso do Tempo" nº 14.

Edições Delfos

Lisboa - 1974.

Página:315

Dimensões: 205x150 mm

Peso: 369

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Como comprar

PREÇO:14.00€

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 Exemplar com pequeno dano  no canto da lombada. Miolo em bom estado, tem uma dedicatória na folha de guarda

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HENRIQUE GALVÃO

 HENRIQUE GALVÃO teve uma notável carreira pública, tanto em Portugal Metropolitano como nas colónias.

 Foi fundador e director da Emissora Nacional, director de Feiras e Exposições, governador de um distrito de Angola, deputado por Angola à Assembleia Nacional em 1935 e de novo em 1946-49, Inspector Superior da Administração Colonial.

 Educado na Escola do Exército, atingiu o posto de Capitão do Exército Português.

 Além das suas actividades públicas, foi um conhecido novelista, dramaturgo e autor de livros sobre política, economia e história.

 Entre as suas várias ocupações, foi incansável viajante, explorador, caçador de caça grossa, naturalista e etnologista.

 Em 1948, como consequência do seu famoso Relatório sobre os Problemas Nativos nas Colónias Portuguesas, Galvão tornou-se um dos cabecilhas da oposição ao Regime de António de Oliveira Salazar.

 Três anos mais tarde dirigiu a campanha eleitoral do Almirante Quintão Meireles para Presidente da República.

 No ano seguinte foi preso pela PIDE sob a ameaça de actividade política subversiva.

 Após um julgamento rodeado de vasta publicidade, passou sete anos na prisão, e, em 1958, em consequência de panfletos que escrevera na prisão atacando a ditadura e a sua oligarquia, foi condenado a mais 18 anos de prisão.

 A 16 de Janeiro de 1959 efectuou uma dramática fuga do Hospital de Santa Maria em Lisboa, refugiando-se quatro semanas mais tarde na Embaixada da Argentina.

 Em Maio de 1959 foi-lhe concedido um salvo-conduto para ir de avião para a Argentina, e, em Novembro desse mesmo ano, deslocou-se para a Venezuela para continuar as suas actividades entre os exilado portugueses al residentes

 Foi na Venezuela que concebeu o plano para a tomada do paquete Santa Maria, plano esse que foi finalmente posto em prática a 21 de Janeiro de 1961.

 Após a captura do Santa Maria e o fim da sua fantástica viagem, no Recife, Brasil, o Capitão Henrique Galvão tomou parte, em 11 de Novembro de 1961, no assalto a um avião, aproveitando-se do mesmo para o lançamento de panfletos sobre Lisboa.

 Nesta operação teve lugar de destaque Herminio da Palma Inácio, incansável lutador contra a ditadura fascista e fundador da «Liga Unidade e Acção Revolucionárias (LUAR).

 Henrique Galvão morreu em São Paulo aos 25 de Junho de 1970, pouco antes da morte do ditador Salazar (27 de Julho de 1970) e quatro anos antes da queda definitiva do fascismo português, em 25 de Abril de 1974.

 Este grande português repousa no cemitério de Vila Nova Cachoeirinha (São Paulo).

 

O REGIME DE SALAZAR

 Em Maio de 1926, como consequência do estado caótico da nação, o Exército Português, enfraquecido por políticas, mas dotado ainda de uma certa autoridade e sentido histórico, expulsou do poder os partidos políticos da nação. O Exército viu-se imediatamente sobrecarregado com funções de governo, muito para além das funções e responsabilidades que se atribuíra. Não tendo qualquer desejo inato de poder político, decidiu desembaraçar-se deste pesado fardo o mais depressa possível. Sentiu-se que, durante um período temporário, enquanto estives- sem a ser reconstruídas as fundações das instituições políticas e administrativas do país, era necessária uma ditadura. No entanto, não se punha sequer em causa o regime permanente: Portugal continuaria a ser uma república. Dois grupos de problemas requeriam solução, para a paz e reputação da nação. Em primeiro lugar, teriam de ser resolvidos os problemas originados pela crítica situação fiscal e administrativa; em segundo lugar, as instituições políticas e económicas do país teriam de ser reformadas em moldes viáveis. Simultaneamente, teriam de empreender-se reformas sociais urgentes sem colidirem com os sentimentos tradicionalmente democráticos do povo.

 

Embora a situação económica da nação durante o primeiro período da ditadura militar fosse desastrosa, o povo conservou uma certa reserva de optimismo e confiança. Assim, apesar do seu descontentamento, evitou-se uma insurreição geral e preparou-se o caminho para o êxito de um Ministro das Finanças partidário do autoritarismo-um futuro ditador financeiro. Esta pasta, depois de ter sido declinada por vários reputados professores de Economia, foi confiada a um obscuro professor da Universidade de Coimbra, António de Oliveira Salazar, cujos artigos começavam a aparecer nas colunas de um jornal católico e que, em tímidos panfletos, proclamava direitos e liberdades que posteriormente negou ao povo Português. O professor Salazar tinha fama de ser honesto, temente a Deus e tecnicamente competente.

 Após a desastrosa administração fiscal dos militares, o povo concedeu imediatamente a Salazar um fundo de confiança ilimitada. Completamente liberto das dificuldades encontradas por outros peritos num regime parla- mentar caótico, não lhe foi difícil obter, pela simples aplicação dos seus conhecimentos técnicos, um êxito fiscal que proclamou então como sendo o seu próprio. A sua vaidade nunca permitiu que se revelassem as verdadeiras razões por detrás deste facto, que era colectivo da nação como um todo.

 Com a sua orientação messiânica, a nação veio a acreditar no seu Enviado de Deus, com a mesma credulidade cega que se concede a charlatães e curandeiros.

 Reconhecendo naturalmente as suas qualidades técnicas, deixou-se entusiasmar a ponto de imputar a Salazar todas as virtudes, incluindo aquelas que mais obviamente lhe faltavam. A sua vaidade, tanto mais perigosa quanto se gabava de ser modesto, experimentou assim a primeira grande satisfação. Ao mesmo tempo, a sua astúcia de camponês dizia-lhe que a melhor maneira de manter a ilusão popular e desfrutar o consequente estado de mito, era ser visto o menos possível, evitar o contacto com o povo e fugir assim ao risco de vir a conhecer-se a ver- dade sobre a sua personalidade. Isto era-lhe bastante fácil, pois, para alcançar o seu tão desejado propósito e fonte de prazer o poder arbitrário teria apenas de sacrificar aquilo que lhe era desagradável, ou pelo menos enfadonho: convivência, espectáculos, companhia de mulheres e outras diversões do homem vulgar.

 Assim, agarrou a oportunidade e começou a criar a máscara que, a partir daí, o protegeria, a ele e ao mito da sua infalibilidade. O povo, ingénuo, e isolado pela censura, das democracias que poderiam esclarecê-lo, só muito mais tarde descobriria quanta malícia de campónio, quanto ódio reprimido e quanto orgulho mórbido estavam ocultos sob a capa de simplicidade e de modéstia que ele usava.

 





 

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