NA
HORA DA VERDADE.
Colonialismo
e Neo-Colonialismo a Proposta de Lei de Revisão Constitucional
Fernando
Pacheco Amorim
Edição do Autor.
Coimbra, 1971.
Páginas: 258
Dimensões:
217x162x20 mm.
Exemplar
em bom estado, sem rasgos. Capa e miolo amarelecidos pelo tempo.
Tem
uma assinatura de posse.
PREÇO: 13.00
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DUAS
PALAVRAS DE INTRODUÇÃO
Não
haverá com certeza neste momento da vida nacional, português digno deste nome
que ao menos consciência interrogá-lo: para onde vamos?
Foi este o título que demos ao nosso último
trabalho sobre o chamado problema ultramarino. No momento, estávamos já
profundamente convictos de qual era o caminho que forças conservadoras iam tentar
impor à concepção revolucionária da integração nacional.
Escrevêmo-lo
por imperativo de consciência, por impulso irresistível de quem, não confinando
a sua concepção de Nação ao ultrapassado conceito étnico e geográfico dos que
só conseguem entende-la no pequeno horizonte do rectângulo europeu, sente que
se aproxima a hora decisiva da luta entre os partidários do Portugal do futuro
e os partidários do Velho do
Restelo, entre os partidários de um Portugal que foi e os que pensam que
Portugal não pode voltar atrás, sem se negar e destruir, e por isso querem que
o caminho de Portugal seja um caminho de amanhã.
Escrevemo-lo
convictos também de que a sua acção no momento seria limitada, pois nada mais
se poderia fazer do que prever uma evolução, do que antecipar sobre o futuro. Sabíamos
que para além da barreira da ignorância, havia uma outra mais difícil de
vencer: a visão pequeno-burguesa do rectângulo exclusivamente europeu.
Sabíamos por isso
que só alguns ficariam esclarecidos, outros apenas alertados ou com algumas
dúvidas, a maioria indiferente. Essa maioria silenciosa que quase nos faz
descrer da natureza humana.
Alguns anos
passaram.
Mantivemo-nos
durante estes anos em silêncio quase absoluto, pois que o amor à causa que defendíamos
assim o aconselhava. Importava na verdade muito, que os factos viessem
confirmar algumas das nossas previsões. E assim chegou a hora decisiva: a hora
em que a prudência é cobardia, o silêncio é traição.
A hora em que é
preciso escolher entre o Portugal conservador, racista, europeu, faminto de
sociedade de consumo e o Portugal do Futuro, aliado natural do Terceiro Mundo,
construindo-se na fraternidade 2)das raças, na integração das culturas, na descoberta
do Homem Novo.
Numa palavra: a
luta entre o Portugal que é e o Portugal que pode ser.
Aqui estamos
pois pedindo a Deus, que nesta hora da Verdade dê à pobre inteligência com que
nos dotou o frio gume de uma espada e à mão que lhe vai servir de instrumento a
firmeza e o calor das paixões que se projectam no futuro e assim redimem os
homens e as pátrias.
Coimbra, 8 de Dezembro de 1970