de Luís de
Sttau Monteiro
ISBN:
978-972-627-744-6
Edição ou
reimpressão: 05-2017
Editor: Areal
Editores
Idioma:
Português
Dimensões: 138
x 210 x 8 mm
Encadernação:
Capa mole
Páginas:144
Literatura >
Teatro
Exemplar como
novo.
PREÇO: 7.00€
A OBRA
https://www.infopedia.pt/$felizmente-ha-luar!
A
peça em dois atos Felizmente Há Luar!, de Sttau Monteiro, publicada em 1961 e
com a qual ganhou o Grande Prémio de Teatro da Associação Portuguesa de
Escritores, foi suprimida pela censura da ditadura; representada pela primeira
vez em 1969, em Paris, só chegaria aos palcos portugueses em 1978, no Teatro
Nacional, encenada pelo próprio autor.
Esta
peça de estreia de Sttau Monteiro tem como cenário o ambiente político dos
inícios do século XIX: em 1817, uma conspiração, encabeçada pelo general Gomes
Freire de Andrade, que pretendia o regresso do Brasil do rei D. João VI e que
se manifestava contrária à presença inglesa, foi descoberta e reprimida com
muita severidade: os conspiradores, acusados de traição à pátria, foram
queimados publicamente e Lisboa foi convidada a assistir...
No
entanto, esta peça marca também posição, pelo conteúdo fortemente ideológico,
como denúncia da opressão que se vivia na época em que foi escrita (1961), sob
a ditadura de Salazar. O recurso à distanciação histórica e à descrição das
injustiças praticadas no início do século XIX em que decorre a ação permitiu-lhe,
assim, colocar também em destaque as injustiças do seu tempo.
Felizmente
Há Luar! é um drama narrativo, dentro dos princípios do teatro épico, que
descreve a "trágica apoteose" do movimento liberal oitocentista, em
Portugal, e interpreta as condições da sociedade portuguesa do início do século
XIX e a revolta dos mais esclarecidos, muitas vezes organizados em sociedades
secretas, contra o poder absolutista e tirânico dos governadores e do
generalíssimo Beresford.
A
figura central é o general Gomes Freire de Andrade «que está sempre presente
embora nunca apareça» (didascália inicial) e que, mesmo ausente, condiciona a
estrutura interna da peça e o comportamento de todas as outras personagens. A
ação desenvolve-se à volta desta personagem e da sua execução: da prisão à
fogueira, com descrições da perseguição dos governadores do Reino, da revolta
desesperada e impotente da sua esposa e da resignação do povo que a
"miséria, o medo e a ignorância" dominam.
Gomes
Freire, amado por uns e odiado pelos que temem perder o poder, é acusado de
chefe da revolta, de estrangeirado e grão-mestre da Maçonaria, por ser um
soldado brilhante e idolatrado pelo povo. Os governantes - Miguel Forjaz,
Beresford e Principal Sousa - perseguem, prendem e mandam executar o General e
os restantes conspiradores através da morte na fogueira. Para eles, aquela
execução, à noite, constituía uma forma de avisar, de dissuadir outros
revoltosos; para Matilde de Melo, a mulher do General, e para mais pessoas era
uma luz a seguir na luta pela liberdade. O general Gomes Freire e mais onze
companheiros, acusados de conspirar contra Beresford e o Conselho de Regência
no poder, tornaram-se, pela sua morte trágica, nos grandes precursores do
liberalismo português e permitiram denunciar a situação do povo que vivia na
miséria e dependente das classes dominantes.
Em
Felizmente Há Luar! percebe-se, facilmente, que a história serve de pretexto
para uma reflexão sobre os anos 60, do século XX. Sttau Monteiro, também ele
perseguido pela PIDE, denuncia assim a situação portuguesa, durante o regime de
Salazar, interpretando as condições históricas que anos mais tarde
contribuiriam para a "Revolução dos Cravos", a 25 de abril de 1974. A
agitação e a conspiração de 1817, em vez de desaparecerem com medo dos opressores,
permitiram o triunfo do liberalismo em 1834, após uma guerra civil. Também as
revoltas e oposição ao regime nos anos 60, de que foi exemplo a candidatura do
General Humberto Delgado (em 1958), o assalto ao "Santa Maria" e a
Revolta de Beja (1961), em vez de serem uma cedência perante a ameaça e a
mordaça, fortaleceram a resistência que levou à implantação da democracia.
Simbologia
Em
Felizmente Há Luar! há diversos símbolos que favorecem a compreensão da
situação vivida e a esperança da liberdade:
A
saia representa a feminilidade e a familiaridade, e, por ser verde, a
fertilidade e esperança. Comprada em Paris (terra da liberdade), com o dinheiro
da venda de duas medalhas representa a felicidade do passado. Colocada por
Matilde no momento da execução, destaca a "alegria" do reencontro (da
união entre o casal) e aponta um novo caminho de esperança e alento.
O
título surge por duas vezes, inserido nas falas das personagens. Na expressão
de D. Miguel, o luar permitirá que o castigo seja visto por todos e, por via do
terror, garantirá a eficácia desta execução pública pelo efeito dissuasor. Nas
palavras de Matilde, o luar irá alertar as consciências, levando o Povo a lutar
pela liberdade, contra a tirania.
A
fogueira simboliza, por um lado, a destruição (pelo menos, momentânea das
esperanças), mas também a purificação e, pela luz que emite e energia que gera,
o poder de luta para garantir a revolução.
A
moeda de cinco réis simboliza a hipocrisia social, a forma como se acalma a
consciência com uma esmola e é símbolo do desrespeito (dos mais poderosos em
relação aos mais desfavorecidos). Quando Matilde a entrega ao Principal Sousa,
a moeda é comparada às que Judas recebeu (moedas de traição com que se compram
as almas).
Os
tambores , símbolo da repressão, provocam o medo e prenunciam a ambiência
trágica da ação.
Sem comentários:
Enviar um comentário