O Arco de Sant´Ana
ISBN: 9789898508294
Edição ou reimpressão: 03-2011
Editor: A Bela e o Monstro
Idioma: Português
Dimensões: 120 x 179 x 20 mm
Encadernação: Capa mole
Páginas: 286
Literatura > Romance
Como novo
PREÇO 3.50€
João Batista da
Silva Leitão [mais tarde de AlmeidGarrett], nasceu no Porto, em 1799. Aí
passou a primeira infância, num caloroso ambiente burguês que lhe deixaria
gratas recordações. Aos 10 anos parte com a família para os Açores, onde inicia
a sua formação literária, sob a tutela do tio Frei Alexandre da Sagrada
Família, bispo de Angra.
Em 1816 ingressa na
Universidade de Coimbra, para seguir estudos de Leis. A vivência académica
seria determinante na sua iniciação política e filosófica. Ainda estudante,
participa no movimento conspirativo que conduziria à revolução de 1820.
Paralelamente despontava, irreverente, a vocação literária: no ano seguinte
surgia o seu primeiro livro, O
Retrato de Vénus, um ousado poema que lhe mereceu um processo em
tribunal.
No período
conturbado que se seguiu, o trajeto pessoal do escritor (já casado com uma
menina elegante, Luísa Midosi) entrelaça-se com a história política do
Liberalismo. A revolução foi um breve momento de entusiasmo liberal, logo
desfeito pela chegada ao poder da fação conservadora, que apoiava o Infante D.
Miguel. Garrett foi obrigado a deixar o País (entre 1823-26), situação que se
repetiria pouco tempo depois (1828-31), na sequência da abdicação de D. Pedro.
No entanto, o escritor encontra na circunstância penosa do exílio uma
oportunidade intelectualmente vantajosa. A permanência em França e Inglaterra
permitiu-lhe conhecer o movimento cultural europeu, na sua dimensão artística e
ideológica. A publicação (ainda em Paris) dos poemas Camões e Dona Branca – os primeiros
textos românticos portugueses – constitui o resultado mais simbólico e
expressivo dessa experiência.
O regresso a
Portugal, em 1832, integrando a expedição liberal comandada por D. Pedro,
constituiu um momento heroico para o «poeta-soldado», que se incorpora no
Batalhão Académico; Garrett foi chamado a participar nas reformas legislativas
do novo regime, mas pouco depois afastado do poder, sob pretexto de missões
diplomáticas no estrangeiro. Voltará à cena política em 1836, no contexto da
«revolução de setembro», pela mão de Passos Manuel: faz parte das Cortes
Constituintes e ajuda a redigir a Constituição de 1838. Além de deputado,
desempenha também um papel relevante no programa de educação cultural
setembrista, designadamente na renovação da dramaturgia nacional: empenha-se na
criação da Inspeção Geral dos Teatros, do Conservatório de Arte Dramática e do
futuro Teatro Nacional; no mesmo espírito funda O Entreato – Jornal de Teatros
e leva à cena, com grande êxito, a peça Um
Auto de Gil Vicente.
Durante os anos 40,
sob o regime autoritário de Costa Cabral, Garrett destaca-se na oposição; no
entanto, o entusiasmo e o fervor militante vão-se exaurindo, perante a
instabilidade política, o materialismo triunfante e o próprio desvirtuamento do
ideal liberal. Descontente com o devir da revolução, afasta-se da vida pública
em 1847. Desse desencanto patriótico dão significativo testemunho algumas obras
publicadas neste período, o mais fecundo da criação literária garrettiana (O Alfageme de Santarém, Frei Luís de Sousa, Viagens na Minha Terra
e O Arco de Sant’Ana,
por exemplo).
Em 1851 regressa ao
Parlamento, já sob a acalmia política da Regeneração. Recebe nesta derradeira
fase da vida alguns gestos oficiais de consagração: é feito visconde, em 1851 e
nomeado Par do Reino, no ano seguinte; chega ainda a ocupar um cargo
ministerial (Negócios Estrangeiros), de que seria demitido pouco tempo depois.
Morreu em 9 de
dezembro de 1854, depois de uma vida sentimental romanticamente atribulada: um
casamento juvenil mal sucedido, com Luísa Midosi; a morte precoce da segunda
companheira, Adelaide Pastor, que lhe deixa uma filha ilegítima; e por fim uma
paixão adúltera, com a Viscondessa da Luz, celebrada em versos escandalosos.
Amante de prazeres
mundanos, galante e apaixonado, foi sempre um conspícuo ator do palco social
romântico, sabendo reverter em seu favor a imagem de dandy cosmopolita que
sempre cultivou. No auge de uma carreira brilhante e de uma vida intensamente
fruída, Almeida Garrett podia justamente orgulhar-se da sua eclética presença
na cultura portuguesa de Oitocentos; de ser (palavras suas) «… um verdadeiro
homem do mundo, que tem vivido nas cortes com os príncipes, no campo com os
homens de guerra, no gabinete com os diplomáticos e homens de Estado, no
parlamento, nos tribunais, nas academias, com todas as notabilidades de muitos
países – e nos salões enfim com as mulheres e com os frívolos do mundo, com as
elegâncias e com as fatuidades do século.»
A Obra (sinopse)
Ancorada no tempo
histórico do Liberalismo, a obra literária garrettiana não pode conceber-se
alheada do contexto político e cultural que a motivou. Da mesma circunstância
decorre a orientação ‘iluminista’ e eticamente empenhada que desde início o seu
trajeto literário revestiu, por entender que «o poeta é também cidadão».
- A poesia lírica e
narrativa dominaria a primeira fase da sua carreira, ainda oscilante entre a
lição do neoclassicismo convencional e a nova corrente romântica, de inspiração
nacionalista. Depois do controverso Retrato
de Vénus (1821) publica, no exílio, os poemas Camões (1825) e Dona Branca (1826) - textos
fundadores do Romantismo português – a que seguiria a coletânea Lírica de João Mínimo
(1829). Começou também nesta fase o trabalho de recolha e preparação dos textos
do cancioneiro tradicional português, fonte inspiradora dos poemas narrativos Bernal Francês e Adozinda (1828). Só
posteriormente viriam a lume os três primeiros volumes do Romanceiro (1843; 1851),
ainda hoje em parte inédito.
- A par da produção
literária, o jornalismo ocupa neste período um lugar importante na sua escrita.
Garrett cedo se apercebeu do imenso poder democratizador da Imprensa nas
sociedades modernas (enquanto formadora da opinião) e saberia tirar excelente
partido desse veículo privilegiado de socialização do público burguês. Já em
1822 lançara um pequeno jornal mundano – O
Toucador (destinado às senhoras). No final dos anos 20 dirigiu
dois periódicos de referência, O
Português e O Cronista.
Mais tarde fundaria O Português
Constitucional (1836) e o jornal teatral O Entreato (1837). Datam
também dos tempos do exílio dois importantes ensaios: Da Educação (1829), um tratado
de filosofia pedagógica dedicado à futura rainha D. Maria II; e Portugal na Balança da Europa
(1830), uma notável reflexão de índole histórico-política.
A fase da
maturidade (década de 40, sobretudo) seria particularmete fecunda, do ponto de
vista literário. Surgem nesta altura as obras maiores do Autor, abrangendo, com
notável versatilidade, a lírica, a narrativa e o drama.
- Garrett atribuía
ao Teatro uma alta função civilizadora, e empenhou-se intensamente na sua
renovação. Queria uma produção nacional de qualidade, suscetível de elevar o
gosto e a cultura do público. A vocação dramatúrgica, revelada na juventude (as
tragédias Catão,
Lucrécia
e Mérope),
conhece a partir de 1838 um novo élan,
com o êxito de Um Auto de Gil
Vicente. Seguir-se-ia um conjunto de peças que modelizam, em
diferentes géneros, a sua eclética veia teatral: o drama histórico – O Alfageme de Santarém,
Frei Luís de Sousa, D. Filipa de Vilhena – e a comédia – Falar verdade a mentir,
Profecias do Bandarra,
Um Noivado no Dafundo, entre
outras. Frei Luís de Sousa
(1844) é reconhecidamente a que melhor realiza o seu ideal de sobriedade
artística: combinando o pathos
da tragédia clássica e a atualidade vivencial do drama familiar, permanece
ainda hoje um texto modelar da literatura dramática nacional.
- A poesia lírica,
embora continue em certos aspetos datada, conhece também uma renovada
inspiração. Das duas coletâneas poéticas desta fase – Flores sem Fruto (1845) e Folhas Caídas (1853), a última é
sem dúvida a mais interessante, e onde mais livremente se expande o
individualismo romântico. Aos temas mais convencionais – a divisão interior, a
dialética mundo/espírito, o apelo de um idealismo transcendente (O Amor, A
Perfeição, Deus, como absolutos da inquieta alma poética) –, acrescenta-se uma
nova e ousada expressão do amor, epitomizada no famoso verso «Não te amo,
quero-te!».
- Apesar de
escassa, a obra romanesca de Garrett tem um rasgo inconfundível de
originalidade. Viagens na Minha
Terra (1843/1846) pode considerar-se a primeira narrativa
moderna portuguesa: utilizando um estilo desenvolto e informal, em diálogo
permanente com o leitor, o autor realiza, à maneira de Stern, uma obra-prima de
ironia intelectual; sob o pretexto de uma crónica de viagem (que também é),
oferece-nos uma ampla e lúcida representação do tempo histórico e social do
Liberalismo. Idêntica estrutura digressiva e aparentemente desconexa caracteriza
o romance histórico O Arco de Sant’Ana
(1845/ 1851), um texto polémico e repassado de humor, cuja ação se reporta a
uma revolta popular contra o bispo do Porto, no século XIV. Ficaria inacabado
um terceiro romance, Helena,
bem como diversos esboços narrativos deixados inéditos.
Encontra-se ainda
dispersa e carecendo de estudos temáticos uma vasta produção fragmentária, de
natureza literária, ensaística e jornalística (em particular no domínio da
crónica política, cultural e mundana), bem como diversos discursos e textos de
circunstância.
Bibliografia ativa
As Obras de Almeida
Garrett encontram-se atualmente disponíveis em várias edições, designadamente
as da Editorial Estampa e do Círculo de Leitores. Está também em curso, na
Imprensa Nacional, a edição crítica das Obras Completas, dirigida por Ofélia
Paiva Monteiro.
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