A FORMIGA E A NEVE
do livro CONTOS POPULARES PORTUGUESES
de Adolfo Coelho
A formiga vai a serra e
seu pé na neve prende.
— Ó neve, tu és tão forte
que meu pé em ti se prende?
— Eu, formiga, sou tão forte
que luz do sol me derrete.
— Ó sol, e tu és tao forte
que derretes a neve,
a neve, que meu pé prende?
— Eu, formiga, sou tão forte
que qualquer nuvem me tapa.
— Ó nuvem, tu és tao forte
que tapas a luz do sol,
do sol, que derrete a neve,
a neve, que meu pé prende?
— Eu, formiga, sou tão forte
que qualquer vento me espalha.
— Ó vento, tu és tão forte
que espalhas a negra nuvem,
a nuvem, que tapa o sol,
o sol, que derrete a neve,
a neve, que meu pé prende?
— Eu, formiga, sou tão forte
que qualquer muro me veda.
— O muro, tu és tao forte
que Vedas o rijo vento,
o Vento, que espalha a nuvem,
a nuvem, que tapa o sol,
o sol, que derrete a neve,
a neve, que meu pé prende?
— Eu, formiga, sou tão forte
que qualquer rato me fura.
— Ó rato, tu és tão forte
que furas o grosso muro,
o muro, que Veda o vento,
o vento que espalha a nuvem,
a nuvem, que tapa o sol,
o sol, que derrete a neve,
a neve, que meu pé prende?
— Eu, formiga, sou tão forte
que qualquer gato me come.
— Ó gato, tu és tão forte
que comes o esperto rato,
o rato, que fura o muro,
o muro, que Veda o vento,
o vento, que espalha a nuvem,
a nuvem, que tapa o sol,
o sol, que derrete a neve,
a neve, que meu pé prende?
— Eu, formiga, sou tao forte
que um cãozinho me mata.
— Ó cãozinho, és tao forte
que matas o bravo gato,
o gato, que come o rato,
o rato, que fura o muro,
o muro, que Veda o vento,
o vento, que espalha a nuvem,
a nuvem, que tapa o sol,
o sol, que derrete a neve,
a neve, que meu pé prende?
— Eu, formiga, sou tao forte que um pauzinho me bate.
— Ó pauzinho, és tao forte
que bates no cão Valente,
o cão, que mata o gato,
o gato, que come o rato,
o rato, que fura o muro,
o muro, que veda o vento,
o Vento, que espalha a nuvem,
a nuvem que tapa o sol,
o sol, que derrete a neve,
a neve, que meu pé prende?
— Eu, formiga, sou tão forte
que qualquer lume me queima.
— Ó lume, tu és tao forte
que queimas o duro pau,
o pau, que bate no cão,
o cão que mata o gato,
o gato, que come o rato,
o rato, que fura o muro,
o muro, que veda o vento,
o vento, que espalha a nuvem,
a nuvem, que tapa o sol,
o sol, que derrete neve,
a neve, que meu pé prende?
— Eu, formiga, sou tão forte
que qualquer agua me apaga.
— Ó agua, tu és tão forte
que apagas o vivo lume,
o lume, que queima o pau,
o pau, que bate no cão,
o cão, que mata o gato,
o gato, que come o rato,
o rato, que fura o muro,
o muro, que veda o vento,
o vento, que espalha a nuvem,
a nuvem, que tapa o sol, o sol, que derrete a neve,
a neve, que meu pé prende?
— Eu, formiga, sou tão forte
que qualquer, cabra me bebe.
— Ó cabra, tu és tao forte
que bebes a fria água,
a água, que apaga o lume,
o lume, que queima o pau,
o pau, que bate no cão,
o cão, que mata o gato,
o gato, que come o rato,
o rato, que fura o muro,
o muro, que veda o vento,
o vento, que espalha a nuvem,
a nuvem, que tapa o sol,
o sol, que derrete a neve,
a neve, que meu pé prende?
— Eu, formiga, sou tao forte que qualquer faca me mata.
— Ó faca, tu és tão forte
que matas a ligeira cabra,
a cabra, que bebe a água,
a água, que apaga o lume,
o lume, que queima o pau,
o pau, que bate no cão,
o cão que mata o gato,
o gato, que come o rato,
o rato, que fura o muro,
o muro, que Veda o vento,
o vento, que espalha a nuvem,
a nuvem, que tapa o sol,
o sol, que derrete a neve,
a neve, que meu pé prende?
— Eu, formiga, sou tão forte que num ai perdi o corte.
Desde o alto até ao fundo
nada é forte neste mundo.
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